Transposição das águas do Rio São Franscico: uma realidade pouco difundida


Por João Reis, 03/03/08

Fico me perguntando por que não há informações precisas ou, pelo menos, mais recorrentes, na mídia, sobre o Projeto de Transposição das Águas do Rio São Franscisco.

Apesar de seu elevado orçamento e das grandes transformações que promoverá na região nordeste, o Projeto é pouco divulgado e, quando o é, a transmissão se limita a uma reportagem acrítica, na maioria das vezes apenas preocupada em transcrever algumas das frases de efeito e de ar messiânico do Presidente Lula. Tais como aquela que o presidente desferiu ao Bispo Luís Flávio Cappio, que é contrário às obras de transposição: “entre a Igreja e os pobres, fico com os pobres.”

Dom Cáppio, que já fez duas greves de fome como protesto, amparado pelo coro de ambientalistas e até da global Letícia Sabatella, argumenta que o Projeto não beneficiará o número de municípios que se destina atingir – o que é confirmado por documentos do Tribunal de Contas da União (TCU) – e que há outros projetos de custo mais reduzido que, ainda assim, contemplariam mais nordestinos.

É intrigante o fato de que, só com o advento de uma greve de fome e o envolvimento de atores de TV em bate-bocas com políticos, esse assunto tenha sido mencionado pelos grandes meios de comunicação do país. Principalmente, em se tratando da magnitude do Projeto que, já aprovado e iniciado, foi responsável, apenas em sua fase inicial, pelo gasto de mais de 50 % dos recursos destinados ao PAC (Programa Anual de Crescimento).

A população brasileira tem o direito de, por meio dos veículos de comunicação, saber dos trâmites políticos envolvidos na execução da obras do Velho Chico. Não só devido à conhecida tradição de administração de recursos públicos em nosso país, geralmente pouco zelosa com seu próprio objeto de trabalho, mas pelo contexto político nordestino. A região é sabidamente dominada por oligarquias (como os Sarney – MA ; Collor de Melo – AL ; ou ACM, na Bahia). Sempre sustentadas em práticas como a do voto de cabresto (sim, ainda existe!), clãs de tal estirpe não teriam dificuldades em ludibriar seus currais eleitorais, desviando para seus latifúndios as águas transpostas do São Francisco. Para, só depois, distribuí-la, pelo preço e condições que impuserem.

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