Por Bárbara Regina, em 07/11/07
Em palestra, fundador da REBIA afirma que sobra informação, mas faltam ações ambientais no Brasil
• Qual é a sua opinião sobre a proliferação de cadernos relacionados ao meio ambiente e à responsabilidade socioambiental nos veículos de comunicação?
Bem, isso constata que temos informação, mas nem todos a usam eficiente e conscientemente. Muitos desses cadernos acabam sendo, algumas vezes, apenas fachadas. E temos que prestar atenção nisso, já que hoje em dia as pessoas são convencidas através da informação. Ela faz com que a opinião pública acredite naquilo que se quer que ela acredite. Antes esse convencimento era feito através do chicote, da força bruta mesmo. Hoje, é através da informação. Então temos que tomar muito cuidado com as falsas informações e mais cuidado ainda com as meias-verdades que circulam por aí e mantêm as pessoas amarradas a um ponto de vista limitado da questão ambiental. Existem até alguns ambientalistas que se utilizam dessas meias-verdades e são contra sua moradia, seu emprego, contra tudo. A idéia de dramatizar é sempre legal quando se quer chamar atenção. Mas isso não adianta. Isso não vai resolver os problemas ambientais do Planeta.
• Visto que você é jornalista e editor de um publicação voltada para o meio ambiente, o que você acha da cobertura da imprensa sobre a questão ambiental? Catastrofista, conformista e/ou otimista? Isso varia de acordo com o veículo?
Depende da mídia. A mídia ambiental tem, com certeza, uma visão mais complexa sobre a questão ambiental, como é o caso dos veículos pelos quais eu sou responsável (o Jornal, o Portal e a Revista do Meio Ambiente). Quanto à grande mídia, acho que ela vai de um extremo ao outro: da visão alarmista à romântica, que ressalta a beleza da natureza, como geralmente acontece no Globo Repórter. Mas, com certeza, ela dá mais atenção a essa questão quando o problema ambiental é mais visível, quando acontece uma catástrofe, aí a grande mídia dá manchete. No entanto, raramente ela aprofunda a questão, a natureza é sempre tratada como algo externo aos seres humanos.
• As empresas, sobretudo as grandes multinacionais, têm investido muito na publicidade relacionada à responsabilidade ambiental. Você acredita que essas ações são apenas parte da estratégia comercial delas ou são, de fato, resultados da preocupação com os recursos naturais e da tentativa de preservação desses?
Isso, com certeza, reflete um movimento que o empresariado está vivendo. Eles pensam assim: “Se a gente não começar a se mostrar preocupado com a questão ambiental, o nosso consumidor não vai mais confiar na gente e não vai mais comprar nossos produtos, usar nossos serviços, etc.”. Em geral, é hipocrisia mesmo, uma estratégia de sobrevivência empresarial. É como se fosse uma árvore de Natal: eles colocam uma bolinha verde para enfeitá-la, mas não mexem nela em si. Ou seja, a maneira com que os recursos são explorados e distribuídos continua a mesma: desigual, injusta e predatória. De fato, a educação e a comunicação ambiental são medidas paleativas, mas é difícil, por exemplo, um pobre pensar no meio ambiente se as poucas políticas públicas que existem nesse sentido não são voltadas para ele.
• De acordo com o que você mesmo disse, você acredita que deixar de enxergar e tratar a natureza como algo externo a nós, seres humanos, é o passo mais importante para que a questão ambiental seja tratada da melhor forma possível?
Sem dúvida. A partir dessa idéia de externalidade, as pessoas, as empresas e até os países agem pensando que aquilo que eles provocam, geralmente, não trazem conseqüências graves para eles mesmos. Elas acabam atingindo e prejudicando terceiros, que, muitas vezes, não fizeram nada para isso. Esse é exatamente o caso dos automóveis e da poluição que eles geram. A maior concentração de veículos está nos países desenvolvidos, mas todo o CO2 que eles geram, entre outros poluentes, prejudicam toda a Terra. A idéia é sempre capitalizar o lucro, restringir os benefícios e socializar todo o prejuízo. Além disso, um outro grande problema é o fato de o mediador, o árbitro que deveria existir entre o interesse privado (das empresas, que buscam, incessantemente, o lucro) e o interesse público (do povo, que tem que ter direito a todos os recursos naturais, igualmente) não atua de forma honesta e eficiente. A administração pública, os governos mesmo não cumprem devidamente esse papel de “juiz”. O forte interesse econômico das empresas tenta e, muitas vezes, consegue dominar o governo e aí os Três Poderes entram nesse esquema (principalmente o legislativo e o executivo) e tudo vira um grande ciclo vicioso, que faz com que a administração pública cuide e legisle os interesses do capital.
* Jornalista ambiental, fundador da REBIA (Rede Brasileira de Informação Ambiental).