Por João Reis, 04/06/08 - Argumentos retóricos desviam a atenção da população quanto aos problemas socioambientais do país
As seguidas críticas de políticos como Blairo Maggi aos dados divulgados sobre o desmatamento em seus estados refletem algumas das estratégias que marcam a conduta política atual. Fazer política, hoje, é, sobretudo, aparecer na TV, seja lá para o que for. Mais do que o conteúdo de um discurso, vale a imagem do político, que acaba velando sua retórica vazia.
O que vale mesmo é o tempo de exposição na mídia, fato que, aliás, é confirmado pelo comportamento de políticos em geral, que passam mais tempo com suas assessorias de imprensa do que realizando as tarefas em prol da sociedade.
Fazer política é também negar quaisquer acusações ou ignorar a relevância de críticas feitas a sua gestão, mesmo que as mesmas sejam comprovadas cientificamente. É o caso, por exemplo, de Blairo Maggi. O Governador de Mato Grosso, apesar de fazer pressão para que isso não acontecesse, não conseguiu impedir que o Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais) divulgasse que o desmatamento na Amazônia atingiu mais de 1000 Km² e que seu estado foi responsável pela maior derrubada de árvores. Dados esses que ainda foram corroborados pela Ong SAD (Sistema Não Governamental de Alerta de Desmatamento na Amazônia), em matéria publicada pela Folha de São Paulo, no dia 4/6.
Segundo o Inpe, somente em abril, foi devastada uma área quase equivalente a cidade do Rio de Janeiro, que tem 1184 Km². 70% desse total, ou 794 Km² foram desmatados somente no estado de Maggi, que é o maior produtor de soja do Brasil e um dos maiores do mundo. Ele minimizou os números do Inpe, afirmando que seu estado foi o que teve a maior cobertura do satélite do Instituto, culpando a falta de nuvens, o que possibilitou o flagrante.
Discurso político esvazia conflitos
Blairo Maggi vem protagonizando embates públicos com o novo ministro do meio ambiente, Carlos Minc, que substituiu Marina Silva, cuja saída da pasta se deveu principalmente ao apoio do presidente Lula a Blairo Maggi. As discussões se devem a pressão que Minc está fazendo sobre o governo de Mato Grosso para conter o avanço da destruição do bioma amazônico. Mas, para Maggi, enquanto a floresta derrubada valer mais do que em pé, o desmatamento continuará.
Já o secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, Luís Henrique Daldegan, resolveu pôr a culpa nos índios, que fariam rituais com fogo, causando desmatamento. No etanto, a maior parte das queimadas é causada pelos fazendeiros financiados pelo estado de Mato Grosso, ou melhor, pelos cidadãos brasileiros.
Discursos como esses, de autoridades de alto escalão, revelam como não há pudor, por parte dos políticos, em declarar o que bem entendem para se defender em público. Eles sabem que, por mais absurda que seja sua fala, o espaço na mídia lhe confere status e a possibilidade de sua retórica atingir milhões de cidadãos com baixo nível de instrução, esvaziando conflitos que estão no cerne da crise institucional, social e ambiental que vivemos.
O discurso político e o desvirtuamento das questões socioambientais
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