Por João Reis, 26/05/08 - Em meio a debates incessantes, visões extremistas provocam discussões sem fim quanto à crise ambiental
As pressões exercidas pelas ações humanas sobre o meio-ambiente vêm sendo discutidas há décadas, principalmente desde os anos 90. Embora um mesmo ponto seja sempre evocado – a degradação ambiental – os objetos de maior preocupação foram mudando ao longo do tempo. Na década de 80, por exemplo, era mais comum a referência à extinção de animais; nos anos 90, a preocupação maior era com a camada de ozônio, devido à utilização dos gases CFC e, após a virada do milênio, passou a estar em evidência o aquecimento global, provocado por gases de efeito estufa, como o gás carbono.
Desde então, providências foram tomadas para se amenizar tais problemas: campanhas contra a utilização de peles de animais em roupas de grifes famosas, a proibição dos gases CFC em muitos países e, mais recentemente, o financiamento para manutenção de reservas florestais (que absorvem CO2), através dos créditos de carbono. Além disso, conferências, simpósios e congressos com a participação de políticos, ambientalistas, cientistas e jornalistas são promovidos diariamente ao redor do mundo no intuito de se avançar nas discussões acerca da problemática ambiental.
Em meio a esses encontros, destacam-se, por seu caráter oficioso e pela participação das principais potências mundiais, as conferências realizadas pela ONU, a Organização das Nações Unidas.
Em 1972, a ONU inseriu a questão ambiental na pauta política e na agenda mundial, ao realizar a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano. Vinte anos depois, a mesma organização promoveu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92 ou Cúpula da Terra, que introduziu o tema ‘desenvolvimento sustentável’ como elemento central da estratégia para conservar o planeta. A partir dessa reunião, formulou-se a Agenda 21, um plano de ação para atingir o desenvolvimento sustentável no século XXI, e a primeira forma do que viria a constituir o Protocolo de Quioto, acordo assinado apenas em 1997, no Japão.
Em 2002, com o objetivo de se avaliar o cumprimento dos acordos estabelecidos na ECO 92, isto é, as ações previstas pela Agenda 21, foi promovida a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 10, em Joahanesburgo, na África do Sul. E em 2007, a 8ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada em Nova Delhi, na Índia foram avaliados os resultados previstos pelo protocolo de Quioto.
Ao final de cada um desses encontros, novas deliberações foram feitas, sob a forma de documentos como a Agenda 21 e o Protocolo de Kioto, mas seu cumprimento está longe de ser uma realidade. É certo que transformar significativamente o modelo de vida insustentável que rege a maior parte dos países do mundo é uma tarefa extremamente complexa. Mas, para além dos interesses políticos e econômicos que dificultam as ações previstas por essas convenções, parece que há alguma dose de incompetência e falta de bom senso àqueles que estão à frente das negociações.
Em meio aos debates, há basicamente dois extremos que se chocam a todo momento, impedindo que se concretizem ações efetivas no combate à degradação ambiental. De um lado, há aqueles para quem o crescimento econômico e o desenvolvimento incessante das sociedades é uma necessidade, uma condição prioritária para o bem-estar humano. Para essa ‘turma’, as licenças ambientais e coisas do tipo ecologicamente corretas são um empecilho ao desenvolvimento, principalmente por reduzirem a margem do lucro que se poderia obter caso não fosse necessário tomar certos cuidados com o meio ambiente. Do outro, há ambientalistas, entre outros atores sociais, que não aceitam o fato de que os seres humanos precisam utilizar os recursos naturais e, por isso, transformar, em alguma medida, a paisagem natural da Terra.
Trata-se de discursos que beiram o fundamentalismo e, conseqüentemente, a ignorância. Em vez de acatar o que há de coerente nas diferentes falas e cruzar as informações, essas vozes, que representam cidadãos do mundo inteiro, acabam se preocupando mais em se contra-atacar e calar ‘o outro’ do que apresentar soluções efetivas aos problemas enfrentados. Assim, assiste-se nos noticiários diariamente, aos debates fervorosos e aos ataques entre ministros, relatores, ambientalistas e cientistas, que fazem a festa da Grande Mídia, a mídia do espetáculo. Enquanto isso, os recursos da Terra vão se esgotando e o tempo para se recuperar o estrago já feito, se encurtando.
As negociações só avançarão se os representantes dos diferentes setores da sociedade tiverem um mínimo de entendimento, a fim de que se chegue a um consenso, pelo menos num nível mais básico. E o primeiro passo para isso será dado quando visões extremistas forem flexibilizadas, pelo bem maior que é a preservação da Terra e dos seres humanos.
Muita fala; pouca ação
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