Sistemas agroflorestais: um importante passo rumo ao desenvolvimento sustentável



Por João Reis, 20/05/08 - Combinação de cultivos agrícolas e animais com espécies vegetais nativas possibilita interação econômica e ecológica no campo


A derrubada de vegetações nativas sempre se apoiou, em parte, na necessidade do uso da terra, seja para o cultivo de alimentos ou para a criação de animais. Hoje, no entanto, essa justificativa, além de não ser mais bem aceita pela sociedade – esta cada vez mais consciente quanto às questões ambientais – já apresenta sinais de obsolescência.

Novas técnicas de uso do solo, como o sistema agroflorestal, permitem que se explorem determinadas áreas sem agredir o ecossistema, como ainda o fazem os grandes agricultores e pecuaristas, através de queimadas para a “limpeza” do solo e do cultivo de apenas uma espécie (que caracteriza as grandes monoculturas de exportação), o que empobrece a biodiversidade local.

Segundo consta no site da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o sistema agroflorestal é uma forma de uso da terra em que se combinam espécies arbóreas lenhosas (frutíferas e/ou madeireiras) com cultivos agrícolas e/ou animais, de forma simultânea ou em seqüência temporal e que interagem econômica e ecologicamente. Uma das estratégias desse sistema, que tem como principal trunfo a sustentabilidade, é a manutenção de árvores nos terrenos explorados. Essas têm a capacidade de capturar nutrientes de camadas mais profundas do solo, reciclando-os eficientemente e proporcionando maior cobertura e conservação dos recursos edáficos (do solo).

Assentamentos em áreas de mata atlântica, como Eldorado, no Vale do Ribeira - SP (região que abriga o maior remanescente de mata atlântica do país), já estão utilizando tal sistema, como mostra matéria publicada no Portal do Meio Ambiente, no dia 20/05/08. Além de maior eficiência no uso dos recursos naturais, como água, luz e os nutrientes do solo, o sistema agroflorestal fornece uma série de serviços socioambientais que beneficiam diretamente as populações que vivem nessas áreas, ricas em biodiversidade.

Para Paulo Kageyama, coordenador geral do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento dos Assentamentos Rurais e Agricultura Familiar do Estado de São Paulo, a estratégia de combinar espécies perenes (que são cultiváveis o ano inteiro) com anuais é um bom negócio para o pequeno produtor. Com isso ele consegue manter o solo coberto o tempo todo, o que melhora a qualidade da terra e mantém a biodiversidade do local.

O sistema agroflorestal representa o início de uma revolução no campo, uma vez que contempla os princípios do desenvolvimento sustentável, ao conjugar a produção com a preservação do meio-ambiente. Assim, forma-se um novo contraponto àqueles que enxergam nos programas de conservação ambiental apenas um empecilho ao desenvolvimento. E ao próprio presidente Lula, que, dias atrás, em mais uma fala rica em retórica populista, afirmou (referindo-se, implicitamente, a ambientalistas e, especialmente à ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva) que só se pensa em preservar o meio-ambiente, em detrimento da qualidade de vida do povo.

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