Expansão da soja na Argentina já provoca desastres ambientais

Mais de 600 mil hectares já foram desmatados devido ao cultivo de soja no país

Por João Reis, 21/07/08

BUENOS AIRES. Na semana passada, o governo argentino sofreu uma grave derrota, ao ver seu projeto de impostos sobre exportações de grãos ser vetado no Congresso Nacional.

Com a forte pressão dos setores agrícolas e da maior parte da população do país – cuja economia é baseada majoritariamente em atividades agropecuárias -, o vice-presidente Julio Cobos, mesmo na condição de peronista, votou contra o projeto de Cristina Kirchner.

A vitória dos ruralistas revela a forca que o campo tem atualmente no país, o que se deve principalmente ao poder dos grandes produtores de soja argentinos. Assim como no Brasil (vide o império do grupo Maggi, capitaneado pelo governador do Mato Grosso do Sul, Blairo Maggi) e outros países do Cone Sul, ocorre, já há alguns anos, uma grande expansão da soja na Argentina.

Boa parte das áreas cultiváveis no país já estão tomadas por plantações de soja, cuja produção cresceu 135 % entre 1994 e 2005 . No entanto, como se tratam de monoculturas de exportação, a Argentina corre riscos de desabastecimento interno. Cerca de 90 % da soja argentina é exportada. Não é a toa que o Governo procurou taxar as exportações de grãos.

Expansão da soja provocará degradação ambiental

Se, por um lado, a soja gera receita para muitos estados argentinos - em sua maioria rurais -, por outro, provoca sérios danos ao meio ambiente. Projeções da WWF indicam que mais de 25 milhões de hectares serão desmatados para o plantio da soja na Argentina. Alem disso, pesticidas e agrotóxicos contaminam os solos e lençóis freáticos, que são fundamentais para o abastecimento de água da população.

No começo deste ano, a secretária de meio ambiente da Argentina, Romina Picolotti, já alertava para o fato de que a expansão da soja representava uma ameaça à biodiversidade do país. Ela deu exemplos do problema que atinge províncias como as de Chaco, Córdoba, Salta, Santa Fe, Santiago del Estero y Tucumán. Ao todo, esses locais já perderam 660 mil hectares de bosques nativos entre 2002 e 2006 como conseqüência direta do avanço do cultivo de soja.

Picolotti ainda lembrou que essa expansão desenfreada oferece um risco à segurança alimentar da Argentina, ao contaminar solos e tomar terras antes destinadas à produção leiteira, de frutos e outros grãos.

A situação argentina serve de exemplo para o Brasil e vice-versa. Ambos os países estão sofrendo pressões no plano político e econômico dos produtores de soja. Por maior que seja o lucro gerado por essa produção – e vale ressaltar que esse dinheiro ficará concentrado nas mãos de poucos proprietários de terra -, o prejuízo aos recursos naturais desses países certamente será maior.


Fonte: Ecoportal.net e Los Andes On Line

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