Por João Reis, 31/03/08
O Brasil é o quinto maior país em extensão territorial do mundo - atrás de Rússia, China, Canadá e EUA. Todos esses quatro países possuem extensas linhas férreas, como a Transiberiana, na Rússia, que tem mais de 900 km comprimento, cortando praticamente todo seu território horizontalmente; a Canadian Pacific Railway, que liga Vancouver a Montreal, no Canadá; a Union Pacific Railroad, nos EUA: malha ferroviária, que, em seus mais de 200 mil km, abrange 23 estados norte-americanos e, na China, são mais de 74 mil km de trilhos, que em breve serão 100 mil km, segundo plano de metas do Governo chinês.
Com cerca de 28.000 Km de extensão, a malha ferroviária brasileira, que enfrenta problemas como o sucateamento, abandono, falta de fiscalização – de modo geral comuns à infra-estrutura do país -, ao contrário do que ocorre em outros países, diminuiu (em 1940, eram 34 mil km). Hoje, o transporte de cargas por trens corresponde apenas a 23 % do total, o que é um número baixo, comparado à Rússia, por exemplo, onde até 80% das cargas são transportadas dessa maneira.
Outro exemplo de meio de transporte mal aproveitado no Brasil é o hidroviário, que é o mais barato e menos agressivo ao meio-ambiente. Apesar de contar com a maior bacia hidrográfica do mundo, a malha hidroviária do país tem apenas 12 mil km e enfrenta problemas como a falta de investimento, na ausência de parcerias entre o poder público e a iniciativa privada, o que impede reformas infra-estruturais, como a construção de eclusas, para se nivelar as hidrovias.
O meio de transporte que recebe mais investimento no Brasil, como se sabe, é o rodoviário. Trata-se de um dos mais prejudiciais ao meio-ambiente, não apenas pelas emissões de monóxido de carbono de carros e caminhões e pela própria poluição sonora, como pelo desmatamento causado pela abertura das estradas e o conseqüente “desenvolvimento” de cidades ao redor, que acabam crescendo desordenadamente. Vale ressaltar que, no Brasil, morrem quase 100 pessoas por dia no trânsito, o que é comparável ao número de óbitos diários na Guerra do Iraque.
Esses dados mostram como o transporte rodoviário, para o qual há claras alternativas, como as supracitadas, nos é caro econômico, social e ambientalmente. Não obstante, em pleno contexto de crise ambiental e de uma luta que é travada por toda a humanidade para reduzir as emissões de carbono, o governo brasileiro decidiu recuperar a BR-319, estrada construída há 35 anos - uma das obras faraônicas características da ditadura militar – hoje abandonada e intransitável. Essa rodovia, que, nesse período, serviu mais para onças passarem do que carros, se revitalizada, poderá integrar a região amazônica com o resto do país, é bem verdade. Porém, poderá trazer problemas como o desmatamento em larga escala (que, segundo estimativas, atingiria uma área equivalente ao tamanho do Uruguai em 2050) e o crescimento desordenado, com novas ondas migratórias para Manaus, que já está sufocada por problemas urbanos e conflitos agrários.
A integração entre o centro amazônico e o centro sul do Brasil é, sem dúvida, muito importante. No entanto, tal necessidade não pode sobrepor-se a um de nossos maiores bens, que é a floresta amazônica. Uma das alternativas para se resolver essa questão, seria a implantação de uma linha férrea, no lugar da rodovia, o que reduziria o impacto ambiental já que os trens utilizam menos combustível, emitindo menos gases de efeito estufa. Maiores investimentos na malhas ferroviária e hidroviária locais poderiam compensar a falta da estrada e, ao mesmo tempo, contribuir para um desenvolvimento sustentável da região.
As autoridades brasileiras precisam atentar para esse projeto e discuti-lo com a sociedade. A questão é complexa, pois envolve a necessidade de desenvolvimento da região amazônica, mas ameaça seu ecossistema e pode atrair problemas sociais graves: sem contar os inúmeros acidentes e o desmatamento das margens rodoviárias, há a prostituição infantil, uma das mais horrendas formas de exploração de crianças. Além disso, a manutenção de estradas requer o investimento de milhões de reais por ano. Enfim, há de se considerar que a construção dessa rodovia, mais do que reduzir custos e melhorar a qualidade de vida da população da região, promoverá expressivos rombos nos cofres públicos e poderá trazer um tipo de desenvolvimento que não é desejado, principalmente em se tratando da área onde se encontra o ‘pulmão’ do planeta Terra.
Recuperação da BR-319: o retrato das políticas de investimento em transporte no Brasil
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