Projeto de mineradora canadense ameaça Patagônia argentina

Empreendimento mineiro poe em risco um dos mais importantes ecossistemas argentinos

Por Joao Reis, 16/09/08


Um projeto da mineradora canadense Alquiline, que tem por objetivo explorar a jazida “Navidad”, na província de Chubut, pode provocar grave desequilíbrio ambiental nessa região da Patagônia argentina.

Segundo ambientalistas, a lixiviação com cianureto - método utilizado pelas mineradoras para separar os metais – é altamente contaminante, podendo afetar o solo e a qualidade da água. Conseqüentemente, seria um risco a saúde das populações locais. E, como a jazida é rica em chumbo, um dos metais pesados mais nocivos à vida, os efeitos poderão ser ainda mais negativos.

Além disso, o alto nível de requerimento de água para a produção – cerca de 40 milhoes de litros por dia durante os 15 anos de vida da jazida -, pode comprometer o ecossistema local, já que as recorrentes secas fizeram da água um bem escasso nessa zona desértica.

Projeto gera tensões sociais

Outro grave problema que está relacionado à intervenção da Alquiline no local, é a pressão exercida sobre povos indígenas e outras populações que vivem há séculos na região, mas que não possuem documentos legais provando a posse das terras.

Em entrevista ao Ecoportal.net, um integrante da tribo Teuhuelche, Victorino Cual, afirmou que empregados da companhia canadense já fazem análises na região, demarcando áreas de interesse para a empresa, mesmo sem o aval dos nativos. “Essa gente recorre os campos, não pedem permissão. Isso está errado e não o aprovamos. Também não demos permissão para andarem pelo o chenque (cemitério), isso não se toca, e esses senhores entraram e exploraram tudo”, protestou Victorino, que sempre viveu no local.

De acordo com o Teuhuelche, a sondagem dos representantes da companhia é constante. Trabalho, comida, casas novas e até carros são oferecidos às populações locais, o que acabou ludibriando alguns dos habitantes, que já assinaram contrato com a Alquiline. Mas a maioria dos nativos se recusa a deixar o lugar onde vivem há muitas gerações.

Governo de Chubut dá total apoio ao estabelecimento da mineradora

Apesar dos protestos dos povos nativos e de outros setores da sociedade argentina, o Governador de Chubut, Mario das Neves já se mostrou aberto à recepção da companhia em sua província. Em reunião com mais de 120 empresários canadenses, Neves afirmou que o projeto é uma experiência fantástica e que “os investidores podem ter a tranqüilidade de que não serão mudadas as regras do jogo”.

No entanto, a lei provincial 5001, que proíbe em todo o território de Chubut “a atividade mineira metalífera a céu aberto e a utilização de cianureto nos processos de produção mineira”, vem sendo um empecilho às pretensões do governo.

As autoridades alegam, contudo, que a proibição não está vigente já que a mesma lei determinou que o Conselho Provincial de Ambiente (COPRAM) deveria definir as zonas do território que ficariam isentas da proibição. Como isso nunca foi feito, “a 5001 não é aplicável”, argumentam os funcionários.

Jazida Navidad vale mais de 3 bilhões de dólares

A boa vontade das autoridades de Chubut certamente está relacionada ao valor da jazida, rica em prata e mercúrio. Segundo avaliações recentemente feitas, Navidad está orçada em 3, 7 bilhões de dólares e ainda pode ter esse valor acrescido futuramente. Trata-se de uma das maiores jazidas de prata e plomo inexploradas do mundo.

Atualmente, existem 20 mineradoras estrangeiras operando em Chubut, numa área que corresponde a cerca de 10 por cento da província.

Segundo os meios de comunicação argentinos, a decisão final quanto à exploração da jazida pela Alquilines, que ainda a disputa com outra companhia canadense (IMA Exploration), não deve ser dada antes das eleições de outubro. Afinal, os políticos não querem se comprometer frente a seu eleitorado.



Fontes: Ecoportal.net; Foro Ambiental e Social Patagônico

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